Várias personalidades e familiares de condecorados com a medalha dos 50 anos da Independência não conseguiram esconder a emoção e satisfação ao receberem a distinção das mãos do Presidente João Lourenço.
Em declarações à imprensa, os distinguidos na “classe Independência”, que reconhece o papel fundamental na luta anti-colonial, sublinharam a importância da distinção.
Entre os condecorados está o nacionalista Ismael Martins, figura central na criação da moeda nacional e antigo Governador do Banco Nacional de Angola. Ao receber a distinção, recordou a tradição de luta da sua família.
“Está no nosso DNA lutar por uma Angola em que os angolanos se sintam donos da sua terra. Isso começou com o meu pai, que foi preso em 1922 e mais tarde em 1959, por resistir ao sistema colonial”, contou.
Para o antigo embaixador nas Nações Unidas, esta distinção simboliza os 50 anos de conquista colectiva e “deve ser uma inspiração para as gerações futuras”.
Também distinguido, mas a título póstumo, foi o antigo membro do Comité Central do MPLA e do Conselho da República Dange Manuel Silvestre. Na ocasião, o filho exteriorizou a satisfação da família.
“É uma gratidão saber que o Estado reconheceu o trabalho do nosso pai. Continuamos o seu legado com orgulho, levando os seus valores às próximas gerações”, prometeu.
A cerimónia incluiu a homenagem ao Agrupamento Musical Aliança FAPLA-Povo, fundado nos anos 70, que teve um papel marcante na moralização das tropas durante a Luta Armada e no período pós-Independência.
O director do grupo, Debrando Cunha, disse que a distinção é o reconhecimento do papel do grupo na música e cultura nacional, lamentando o facto de a maioria dos membros estarem já mortos, como são os casos de David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes.
“Mas o legado permanece vivo na memória colectiva”, reconforta-se.
Foi, igualmente, condecorado pelo seu contributo à luta pela Independência Nacional o antigo técnico de som da TPA e RNA Artur da Silva Neves, um dos fundadores da hoje Rádio Nacional de Angola.
Artur Neves integrou o grupo de profissionais que colocou a estação ao serviço dos angolanos e da defesa dos princípios da Independência Nacional.
Aos jornalistas contou que partilhou, desde o início, os momentos mais críticos da luta pela Independência. “É um instante de gratidão e felicidade por ter contribuído com reportagens em todo o país durante o conflito”, confessou.
Entre os homenageados a título póstumo está, ainda, o diplomata Carlos Belli-Bello, antigo embaixador de Angola no Brasil e na Alemanha.
O seu irmão, o bibliotecário, documentalista e jornalista Jerónimo Belo, que também foi condecorado, descreveu o momento como “um motivo de grande orgulho e honra para a família”, tendo sublinhado que o reconhecimento simboliza a contribuição de ambos para que “Angola se sentasse à mesa das nações no dia 11 de Novembro de 1975, o nosso aniversário colectivo”, enfatizou.
Carlos Belli-Bello foi, igualmente, comissário político da Força Aérea Popular de Angola/Defesa Anti Aérea (FAPA/DAA), actualmente Força Aérea Nacional (FAN).
Outro momento emotivo foi a homenagem póstuma ao diplomata Luís Paulo de Castro, com a esposa Maria da Cruz a receber a condecoração. “É um reconhecimento público e internacional pelo trabalho que desenvolveu ao longo de 32 anos como diplomata de carreira. Levou o nome de Angola além-mar e deixou um exemplo de dedicação aos seus filhos e a todos os angolanos”, declarou.
Paz e Desenvolvimento
Na sessão da tarde, dedicada à “Classe Paz e Desenvolvimento”, várias personalidades do desporto, cultura, grupos e organizações de arte receberam, também, a medalha de reconhecimento das mãos do Presidente da República, João Lourenço.
José Mena Abrantes recebeu no palco o reconhecimento dado ao Grupo Elinga Teatro. Em nome do colectivo, falou da importância do acto público, numa altura em que o grupo completou, em Maio deste ano, 37 anos de existência.
Para o jornalista, dramaturgo, escritor e poeta receber o reconhecimento das mãos do Chefe de Estado é realmente algo que compensa todos os sacrifícios que o grupo consentiu durante esses 37 anos de existência.
“Hoje, temos o Elinga de sempre, mudam as pessoas, mas o espírito da casa mantém-se e continuamos sempre activos a montar peças nacionais, peças estrangeiras, participar em nome de Angola em festivais internacionais, e, portanto, é um grupo que é exemplo de outros, também, com a mesma idade. Continuamos a batalhar, à espera de salas novas, à espera de subsídios para produzir as peças, enfim, à espera de muita coisa ainda”, disse.
Grupos como Os Tuneza, Henrique Art, Caritas de Angola, Ballet Tradicional Kilandukilo e outros, também foram ontem distinguidos na “Classe de Paz e Desenvolvimento”.
Pelo Ballet Tradicional Kilandukilo, Maneco Vieira Dias agradeceu pelo reconhecimento, sublinhando os mais de 40 anos de existência a contribuir para a elevação da cultura nacional, através da dança tradicional, a Kizomba, Semba e ritmos que estão a circular hoje pelo mundo, como resultado do trabalho do grupo.
Mereceram, também, a outorga da medalha o antigo jogador da Selecção Nacional André Macanga, a Rainha Nhakatolo, o ex-ministro e embaixador Albino Malungo, a provedora de Justiça, Florbela Araújo, o político António Fiel “Didi”, os jornalistas António José Ribeiro e Ana Lemos, o desportista Tony Kikanga, assim como o comissário-geral Alfredo Mingas “Panda”, André Soma e o empresário e político Bento Kangamba.