• Missão Evangélica do Dondi ressurge com Campus Universitário moderno


    A Missão Evangélica do Dondi, localizada no município do Cachiungo, fundada a 5 de Outubro de 1914, pelos missionários canadianos John Tucker, Woodsid e William Currie, ressurgiu com a construção de um Campus Universitário moderno, financiado pelo Governo.

    O Campus Universitário, que arranca já no ano lectivo 2025/2026, concretiza um antigo sonho dos missionários canadianos, que desejavam erguer uma instituição de Ensino Superior, mas foram impedidos pela administração colonial.

    O projecto de construção da estrutura, propriedade da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), que vai revolucionar o Ensino Superior no corredor Este da província do Huambo, foi lançado em Agosto de 2022, a cargo da construtora China Railway-20 Group Internacional Angola (CR-20) e concluído no dia 26 de Janeiro deste ano, com a entrega das chaves, faltando apenas o apetrechamento.

    Com previsão de acolher 5.400 estudantes, 600 dos quais em regime de internato, o Campus tem um edifício de ensino com 40 salas de aula, salas de professores, cinco laboratórios, bibliotecas física e virtual, refeitórios, residências para os docentes e um auditório.

    As obras custaram mais de cinco mil milhões de Kwanzas. O novo estabelecimento de ensino vai ministrar cursos de licenciatura em Ciências de Educação, Economia, Ciências Agrárias, Teologia, Direito, Silvicultura, Arquitectura, Ciências Médicas e Engenharias Agro-pecuárias.

    Segundo o secretário do Sínodo Provincial da Igreja Evangélica Congregacional em Angola(IECA), pastor Gilberto Ndunduma, as instalações estão totalmente concluídas, aguardando apenas o financiamento para o apetrechamento.

    A concretização do Campus Universitário, disse, resulta de um beneplácito do Presidente da República, João Lourenço, que realiza um sonho dos antigos missionários.

    “O sonho de uma universidade no Dondi foi concretizado dentro das comemorações dos 50 anos da Independência Nacional, por acção do Governo angolano. Encaro esta perspectiva de “Angola 50 anos” como um facto inédito, que concretizou a construção do maior projecto universitário na província do Huambo, permitindo a formação da nova geração”, sublinhou.

    O Campus Universitário do Dondi está implantado num espaço de 344 hectares, incluindo a área de produção agrícola, que vai alimentar os estudantes e professores, com a produção de milho, feijão, soja e outros produtos, e servir para aulas práticas aos formandos dos cursos de Ciências Agrárias e Silvicultura.

    O responsável informou que, no total, a Missão do Dondi tem um terreno de mais de 3.400 hectares, destinados a outros projectos que possam surgir.

    O secretário do Sínodo Provincial da IECA referiu que a universidade do Dondi não só vai produzir conhecimento, como também alimentos para o consumo do internato e os excedentes vão ser comercializados.

    “A instituição de ensino superior constitui um grande ganho para o país, principalmente para as regiões do Huambo, Bié, Cuanza-Sul e Benguela. É um grande presente dos 50 anos de Independência Nacional e vai corresponder com as expectativas dos estudantes”, disse.

    As antigas estruturas da Missão do Dondi

    O pastor Gilberto Ndunduma lembrou que a Missão do Dondi foi destruída durante o conflito armado. Depois da conquista da paz, a igreja começou a reabilitar as estruturas de modo faseado, beneficiando a histórica igreja, a escola e a parte do antigo internato.

    As antigas estruturas da Missão do Dondi, prosseguiu, vão ser melhoradas, para que acudam outros projectos da igreja ligados à formação de base e intermédia. O espaço antigo deve, igualmente, ser aproveitado para a promoção de cursos de formação profissional, como a carpintaria e alfaiataria.

    “Classificada como Património Material Histórico-Cultural Nacional, em Abril de 2022, a Missão do Dondi precisa que o seu estatuto seja preservado, uma vez que é um bem que pertence aos angolanos”, sublinhou.

    O secretário do sínodo provincial da IECA no Huambo assegurou que a igreja vai continuar a construir infra-estruturas sociais e de culto, que visam promover a formação e assistência médica, para assegurar o bem-estar das comunidades.

    Gilberto Ndunduma recordou que a IECA jogou um papel importante na conquista da Independência Nacional, uma vez que a memória colectiva dos angolanos lembra de muitos pastores da igreja que contribuíram na luta contra o colonialismo, a partir das mensagens transmitidas nos púlpitos.

    Antiga geração formada no Dondi

    A Missão Evangélica do Dondi formou e continua a formar muitos pastores que estão a assegurar os destinos da IECA.

    Prova disso é o espírito de evangelização, resistência, fé, luta e resiliência do casal Fernando e Adelaide Katanha, unidos pelo sonho de cumprir uma missão e juntos continuam a trilhar os caminhos do pastorado com muita alegria.

    Os dois são os únicos pastores sobreviventes da geração formada na Missão do Dondi antes de 1975, que se tem em memória a nível da província ou talvez no país. Foram ordenados a pastores no mesmo dia e ano, isto é, a 19 de Fevereiro de 1978, e trabalharam em momentos adversos da história do país.

    Em declarações ao Jornal de Angola, o reverendo Fernando Katanha disse que o Dondi foi a sexta missão criada até 1914, na região Centro de Angola. As outras são a Missão do Tchilume, no Bailundo (Huambo), Kamundongo, Tchissamba e Tchilesso, na província do Bié, e Elende, no município do Ucuma, no Huambo.

    Na visão dos missionários, segundo Fernando Katanha, o Dondi tinha de ser fundado no centro das restantes missões, para facilitar a chegada de pessoas de vários pontos do país, para a formação académica, teológica e profissional.

    Já naquela altura, disse, a Missão tinha todos os requisitos necessários para se transformar numa universidade, uma vez que a fase embrionária foi o Instituto Currie, uma iniciativa propedêutica para a formação superior. Nos anos de 1940, o pedido da igreja não foi aceite pela administração colonial portuguesa. “A Missão Dondi, de 1914 a 1975, formou muita gente vinda de diferentes pontos de Angola, sem distinção de religião nem raça. Uns tornaram-se pastores e outros serviram para o desenvolvimento do país em várias especialidades”, recordou.

    Nascido na aldeia de Tchiesse, na comuna do Mbave, município da Chicala Cholohanga, em 1944, Fernando Katanha chegou ao Dondi aos 10 anos, onde passou a sua adolescência e juventude, começou ali a sua formação, desde o pré-primário, primário e depois o ensino médio.

    Depois da sua ordenação, a 19 de Fevereiro de 1978, a sua primeira colocação foi no município do Lobito, província de Benguela, onde trabalhou até 1986 e o resto da sua missão foi feita no Huambo, tendo atingido o posto de secretário provincial da IECA. De 1914 até 8 de Fevereiro de 1976, data em que ficou encerrada, a Missão do Dondi funcionou durante 62 anos e formou milhares de estudantes que asseguraram os destinos da igreja.

    Pastora Adelaide Katanha

    Nascida na aldeia Sakadjimba, no município do Cunhinga, província do Bié, Adelaide Katanha cresceu na província do Huambo, filha de um antigo ferroviário.

    Adelaide Katanha chegou à Missão do Dondi com 14 anos, tendo feito o ensino primário na cidade do Huambo, na Escola Evangélica da Bomba Alta.

    No Dondi, começou a sua trajectória na escola Means, uma instituição de formação feminina, dentro da Missão. Em 1972, transitou para o Instituto Currie, na ala que formava os seminaristas, porque não só tinha o ideal de entrar no seminário para seguir o pastorado, mas porque ela teve a maior nota entre as meninas. Depois dos estudos teológicos, foi ordenada a pastora no dia 19 de Fevereiro de 1978 e teve a sua primeira colocação na Igreja dos Peregrinos, no bairro São João e até hoje exerce a vida missionária.

    “A Missão do Dondi foi o meu ninho, cresci e me formei ali e aprendi a polivalência”, sublinhou. Em 2002, 26 anos depois, lembra, a Missão do Dondi reabre graças ao Memorando do Luena, mas foi encontrada num estado deplorável, entretanto, aos poucos foi reconstituída. Em 2007, a instituição voltou a receber seminaristas para a formação de pastores.

    Poucos anos depois da reabertura, Adelaide Katanha foi eleita reitora da Missão do Dondi, em 2015, exercendo as funções até 2022.

    Livro sobre o Dondi

    “O seminário Emanuel do Dondi, impacto na evangelização e extensão do congregacionalismo em Angola 1947-2022” é o título do livro escrito pela pastora Adelaide Katanha, baseado no trabalho iniciado pelos missionários.

    Segundo a reverenda, hoje, o jovem pastor não gosta de ir para a zona rural e não se inspira nos fundadores das missões, que antigamente saíram dos seus países para constituir as novas igrejas nas zonas rurais.

    O livro retrata como era a vida naquela instituição . Trata-se, disse, de um material de consulta que poderá servir muitas gerações de estudantes e não só.

    Estudantes aspirantes ao pastorado

    A nova geração dos estudantes aspirantes ao pastorado, que está a ser formada no Instituto Currie, da Missão do Dondi, assegura estar a preservar o legado da instituição. São no total 78 seminaristas provenientes de vários pontos do país, sendo 13 mulheres.

    É o caso de Clotilde Tomás, seminarista proveniente de Luanda, que está a ser formada no Dondi para ser pastora. Clotilde garante que está a frequentar a formação com muita alegria, considerando a Missão do Dondi como “Terra Santa”, sendo para muitos um sonho formar-se no Dondi.

    A seminarista revelou que encontrou a paz naquele local, o que está a facilitar a sua formação em todas as vertentes, tanto espiritual, religiosa, humana e científica.

    Clotilde Tomás está no segundo ano de formação teológica, faltando mais dois para realizar o sonho de ser pastora. “A caminhada é longa, mas é boa. Este é um lugar de forja. Estou a aprender muito mais sobre a vida e a ciência. Na missão, somos uma comunidade muito unida”, sublinhou.

    Margarida Castro Rodrigues, outra formanda, é oriunda do Bié e disse estar a ser moldada para servir a igreja. “É uma grande experiência e um desafio, uma vez que a formação requer muito desempenho e entrega”, salientou.

    Tempos livres

    Os seminaristas que vivem na missão do Dondi aprendem de tudo um pouco, procuram se divertir de muitas formas, com actividades desportivas, sessões de música gospel e prática da Agricultura.

    Evaristo Sitongua, proveniente do município do Lubango, província da Huíla, com a sua viola nas mãos, tem sido um dos vocalistas principais nos concertos gospel nos momentos de lazer, entoando hinos do Hinário e outros sons conhecidos pela comunidade. Quando falta energia, uma vez que o sistema solar ali montado nem sempre corresponde às necessidades do internato, a alternativa passa pelo som da guitarra, que acalenta a juventude.

    Evaristo Sitongua admite que está a ser formado para ser um agente de expansão do Evangelho em vários pontos do país, porém, a música gospel é também um instrumento de evangelização, pois, mexe, pois, com a alma.

    A guitarra, disse, é uma ferramenta musical que ajuda a exprimir aquilo que vem da alma, através da canção.

    “Aqui, neste local, a guitarra tem sido um companheiro importante, depois das aulas ou da leitura, ajuda a refrescar entoando canções diversas e ajudar a acalentar os ânimos”, disse.

    Bernardino Samoko, vindo do município do Huambo, disse que estar em formação na missão do Dondi constitui um desafio. Apesar de tudo, considera ser o melhor lugar para se viver e aprender mais sobre a vida da igreja e adquirir os melhores métodos de expandir o Evangelho.

    “Aqui, a pessoa não tem muito contacto com o exterior. Esta tranquilidade ajuda a rever a chamamento ao serviço da igreja, facilita os momentos de leitura e meditação”, sublinhou.

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