Presidente da República de Angola, João Lourenço, ao fim da manhã do primeiro dia de trabalho em Nova Delhi, no quadro da sua visita de Estado à Índia:
“ Sua Excelência Narendra Modi, Primeiro-Ministro da República da Índia;
Distintos Membros das delegações indiana e angolana;
Distintos Convidados;
Minhas Senhoras, Meus Senhores;
Permitam-me, antes de mais, agradecer as palavras bastante amáveis que Vossa Excelência nos dirigiu e expressar-lhe a nossa gratidão pela hospitalidade que nos tem sido reservada desde a nossa chegada a esta bela cidade de Nova Delhi, onde vemos reflectida a rica e vasta cultura do povo indiano que nos acolheu com o calor e a simpatia que lhe é característica.
Esta Visita de Estado, a primeira que realizo ao Vosso país, ocorre trinta e oito anos depois de o Presidente José Eduardo dos Santos ter visitado a Índia, numa altura em que em Angola nos debatíamos com um longo conflito que condicionava em larga escala a concretização de objectivos de desenvolvimento, que poderíamos ter começado a realizar no quadro da cooperação com o vosso grandioso país.
Hoje as circunstâncias mudaram, temos paz num contexto de democracia que se vai consolidando, o que abre perspectivas de intercâmbio muito mais vastas entre a República de Angola e a Índia, cujo potencial, compartilhado com o que Angola possui, pode ajudar a criar uma base bastante alargada de oportunidades de negócios, de trocas comerciais, de cooperação institucional, de investimentos nas economias dos nossos respectivos países e de outros domínios que formos identificando.
Vim à Índia para deixar, de entre outros aspectos, um sinal de admiração e amizade que nutrimos pelo vosso país, cuja história é rica em acontecimentos que vos tornaram uma referência cultural, científica, tecnológica e política a nível mundial.
Vim também à Índia com o propósito de trazer uma nova visão sobre as relações entre os nossos países, alicerçada sobre objectivos concretos, exequíveis e com resultados práticos que ajudem a mudar, ainda no nosso tempo, o quotidiano dos nossos respectivos povos.
Senhor Primeiro-Ministro,
Excelência,
Quando olhamos para o que foi feito desde o estabelecimento das relações entre os nossos respectivos países, para o que ficou por fazer e o que poderá ser feito, constatamos que há um vazio de realizações que temos a necessidade e a possibilidade de colmatar, se tivermos em conta as capacidades humanas, materiais e outras disponíveis.
É nessa perspectiva que a parte angolana procurará abordar durante as discussões bilaterais os nossos principais interesses em matéria de cooperação com a Índia, colocando maior ênfase nos sectores da Agricultura para promover a segurança alimentar, no sector das Finanças, da Saúde, da Defesa, do Ensino Superior, das Tecnologias de Informação, da Energia, da Indústria e do Comércio e dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, com a expectativa de que no fim dos trabalhos, possamos concluir que valeu a pena pelos resultados obtidos, dado que estes domínios constituem a base sobre a qual se sustentará todo o programa de desenvolvimento económico e social de Angola, para o qual contamos muito especialmente com a participação da Índia.
Gostaria de realçar neste âmbito, a importância que assume para nós a participação directa de investidores indianos na economia angolana, que tem um potencial de crescimento bastante apreciável e reúne condições que a tornam atractiva, pois possuímos um activo relevante que é uma população jovem, com vigor e capacidade de assimilação de novos conhecimentos que podem ser colocados ao serviço dos empreendedores que buscam Angola como um destino para realizarem os seus investimentos e negócios.
Essas ideias poderão tornar-se uma realidade palpável a curto e médio prazo, pois existe a vontade política que nos anima a realizarmos projectos com benefícios mútuos, para os quais é fundamental mobilizarmos os recursos financeiros necessários, pelo que gostaríamos de poder contar com a disponibilidade e abertura do vosso país no sentido de que seja criado um fundo de investimento, para estimular os empresários indianos a fazerem apostas em empreendimentos em áreas do seu interesse em Angola, assim como uma linha de crédito à exportação.
Merece destaque o facto de termos assinado há pouco um número considerável de instrumentos jurídicos, que vão permitir a retoma e o reforço da cooperação bilateral após o longo período de estagnação desde a assinatura do Acordo Geral de Cooperação Económica, Técnica, Cientifica e Cultural a 4 de Outubro de 1986, até à realização da primeira Sessão da Comissão Bilateral Angola-Índia em Setembro de 2020 e a activação do Mecanismo de Consultas Político-Diplomáticas entre os dois países, a 11 de Agosto de 2023.
Esta retomada de contactos ocorreu num período crítico da história recente da Humanidade, em que a pandemia da COVID-19, por um lado, restringiu à escala global os contactos entre povos e nações mas, por outro, foi exactamente nesse período difícil que nos voltámos a encontrar para falarmos das nossas perspectivas, dos nossos interesses, das nossas visões sobre o futuro e também dos desafios que o mundo e a África em particular enfrentavam na altura para fazer face a um fenómeno inédito, em que o vosso país teve um papel preponderante na contribuição que prestou ao continente africano, sobretudo com a doação de vacinas que foram essenciais no esforço de contenção da propagação da doença.
Excelência Primeiro-Ministro Narendra Modi
Excelências
Neste contacto entre dois países do Sul Global, de zonas diferentes do mundo mas de importância estratégica não negligenciável, somos impelidos a abordar as questões que se prendem com o panorama internacional actual, pela complexidade e pelas ameaças que encerram.
Tenho a plena convicção de que partilhamos os mesmos princípios e pontos de vista comuns sobre a necessidade de contribuirmos para a reconstrução da nova ordem mundial, restituindo às Nações Unidas e a todos os seus órgãos o papel central na busca de soluções pela via do diálogo, que concorram para a redução das tensões actuais que geram instabilidade política, crises humanitárias, incertezas ao nível dos mercados, com grave incidência sobre o comércio mundial e, consequentemente, sobre a segurança alimentar e energética dos países à escala global.
Todos esses factos evidenciam a primazia do multilateralismo sobre as visões formuladas por agrupamentos de países que se entendem como suficientemente poderosos e com o direito de impor modelos e soluções de desenvolvimento a que os demais se devem submeter.
Este cenário tende a subestimar o direito internacional como a fórmula que deve continuar a ser globalmente aceite para resolver o conflito no Médio Oriente, na base das resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que estabelece a criação do Estado da Palestina, o conflito que se desenrola na Ucrânia e noutras regiões do mundo, designadamente em África, onde nos preocupam a guerra no Sudão, na República Democrática do Congo e a instabilidade crónica que vigora anos a fio na região do Sahel.
Muito obrigado pela vossa atenção “.